Janaina Tokitaka: A ilustradora que escreve histórias modernas inspirada no folclore tradicional

A ilustradora paulistana Janaina Tokitaka conversou com o Elefante Letrado sobre sua vida e obra. Histórias que unem com destreza o passado, a memória e a pesquisa com uma técnica contemporânea e valores pessoais autênticos e modernos. 

Formada em artes plásticas pela ECA-USP, tem 21 livros publicados de sua autoria, e mais de 20 ilustrados para outros autores. Atualmente, escreve uma nova temporada da série Oswaldo, do Cartoon Network, criada por Pedro Eboli. Seu livro Escamas recebeu o selo Altamente Recomendável pela Fundação Nacional de Literatura Infanto-Juvenil e foi selecionado para o catálogo da Feira Internacional de Bolonha, assim como A árvore e os três caminhos. Foi a ilustradora selecionada do Brasil para o workshop BIB-Unesco 2016 da Bienal Internacional de Bratslava. 

Janaina Tokitaka, cita como inspiração para trabalhar Roald Dahl (escritor britânico) e Maurice Sendak (ilustrador americano). Além disso, comenta sobre o autor britânico de literatura infanto-juvenil, David Almond sendo uma referência para seu trabalho. As escritoras e ilustradoras Angela Lago e Eva Furnari também são usadas como exemplos de humor e honestidade.

Em Monstrotaro, uma releitura do conto tradicional japonês Momotaro, Janaína une ficção científica e folclore tradicional do Japão. livro que faz parte do acervo da Plataforma e será incluída na biblioteca traduzido para o inglês.

A obra Princesas Guerreiras desconstrói o padrão de contos de fadas, trazendo um olhar sobre narrativas de mulheres africanas e indígenas. Já o livro Pode pegar! destaca a igualdade de gênero:

“Para as crianças não há tanta rigidez em comportamentos de gênero do que há para os adultos. Brinco que escrevo esses livros também para os pais, porque as vezes é mais necessário educar a eles sobre o assunto”, diz.

EL – Sua obra tem, entre muitas outras qualidades, um diferencial interessante, que é a abordagem da cultura japonesa. Fale um pouco sobre Monstrotaro, como é o conto tradicional no qual foi inspirado e por que a escolha dele.

Janaina Tokitaka – O Monstrotaro foi baseado na história do Momotaro, o menino pêssego. No conto original, japonês, um menino sai de dentro de um pêssego, atendendo ao desejo de um casal de velhinhos que não tem filhos. Em uma das versões da história, o pêssego cai do céu. Eu sempre achei, desde criança, que se algo cai do céu, faria mais sentido que fosse um disco voador ou algo do tipo. Então, reescrevi a história usando dois elementos da cultura japonesa que eu adoro: as narrativas de monstro/ficção científica, como godzilla e o folclore tradicional do japão.

Monstrotaro

Livro Monstrotaro – Localizado na estante L da Plataforma Elefante Letrado.

EL – Seu interesse por contos orais tradicionais vão além da cultura japonesa, como no caso de Princesas Guerreiras. Que leituras fizeram você buscar informações sobre esses contos e a possibilidade de novas abordagens sobre eles?

Janaina Tokitaka – Eu gosto muito de folclore e narrativas orais porque eles seguem uma dicotomia muito interessante. Ao mesmo tempo, falam de temas universais, de grande interesse para qualquer indivíduo de qualquer lugar, mas são também extraordinariamente específicos e valorizam a tradição local de onde saíram. Por isso, acho interessante pesquisar a fundo essa produção que geralmente não é tão valorizada. Por exemplo: conhecemos uma camada muito superficial dos contos de fada e isso leva a julgamentos apressados sobre seu conteúdo. Outro dia, li por aí que contos de fada eram machistas.

A partir desse julgamento, comecei a questionar se eram todos machistas ou só os mais conhecidos e recontados pelos estúdios Disney das décadas passadas. Pesquisando, descobri que na maior parte dos contos de fada africanos e indígenas, a mulher não é submissa e seu valor não tem necessariamente a ver com sua beleza. Nasceu, assim, meu livro Princesas Guerreiras.

EL – Fale um pouco sobre como começou a escrever e a ilustrar.

Janaina Tokitaka – Sempre gostei muito de histórias. As que promoviam o encontro entre linguagens sempre foram minhas preferidas: filmes, livros ilustrados, quadrinhos.… Desde muito pequena, sempre gostei de criar meus pequenos universos, seja através da escrita ou do desenho. Acabei encontrando no livro infantil a plataforma perfeita para sustentar esses meus dois interesses.

EL – Que autores infantis inspiraram você, na infância e na vida adulta?

Janaina Tokitaka – Difícil escolher, mas gosto muito de Roald Dahl, Maurice Sendak e David Almond. São livros com senso de humor, inteligentes e que falam com honestidade para a criança. Vejo as mesmas qualidades nos livros de Angela Lago e Eva Furnari.

EL – Como se dá a escolha do material de cada livros? Sua escolha de cores e tons são diferentes, instigantes.

Janaina Tokitaka – Eu escolho os materiais, cores e técnicas pensando no tipo de história que quero contar. Em comum, costumo usar aquarela ou algum tipo de técnica úmida e sempre uso o papel como suporte, mas eu costumo variar bastante de paleta tonal. As vezes é interessante criar um contraste com a história. As vezes é melhor ser mais harmônica, mas deixo o processo correr com calma e naturalidade. Não é bom planejar demais.

EL – Como é formar o leitor visual, mostrar que o entendimento da leitura não está preso apenas às palavras. E como isso chega na escrita: acha mais difícil escrever ou transpor para a imagem?

Janaina Tokitaka – Acho que as duas linguagens são ao mesmo tempo independentes e complementares. Não é possível transpor o texto para a imagem porque não se trata de uma tradução. Seria como transpor, por exemplo, um macarrão para uma sinfonia! Entretanto, é possível escrever uma sinfonia sobre um macarrão, ou criar um macarrão inspirado em uma música com ótimos resultados. Acho que as duas formas. A escrita e o desenho, são igualmente difíceis, mas sinto que há dias melhores para uma coisa ou para outra. Formar um leitor visual é algo muito necessário: grande parte da informação hoje é visual, então é importante que as crianças aprendam a decodificá-la, até para poder entendê-la e criticá-la, se preciso. 

EL – Como se dá esse processo de trabalho – escreve a partir da ilustração ou ao contrário?

Janaina Tokitaka – Depende muito do livro. Já escrevi uma história de cinquenta páginas a partir de uma única imagem. E também já escrevi um texto inteiro para só depois pensar na parte visual.

EL – E como se dá quando a ilustração é para o livro de outro autor?

Janaina Tokitaka – Digo sempre que é como um cantor interpretando a música de outro compositor. Quando há afinidade com o que foi escrito, é possível somar ao resultado de uma maneira interessante e autoral.

EL – Em uma entrevista sua sobre o Pode Pegar!, que destaca a igualdade de gênero, você diz que alguns editores não acham adequados personagens femininas para meninos. Como tem sido o comportamento/a resposta do público infantil em lançamentos e outras atividades que tem com as crianças?

Janina Tokitaka – As crianças curtem muito, porque para elas não há tanta rigidez em comportamentos de gênero como para os adultos. Brinco que escrevo esses livros também para os pais, porque as vezes é mais necessário educar a eles sobre o assunto. O Pode Pegar, por exemplo, fala da roupa de um ponto de vista que as crianças entendem bem: o da brincadeira! Muito mais do que de menino ou de menina, a roupa pode proporcionar um bom faz de conta, por exemplo.

EL – Está trabalhando em algum novo projeto?

Janaina Tokitaka – Muitos! No momento estou trabalhando em um quadrinho longo, para o público mais velho, que deverá sair pela Companhia das Letras. Um livro que conta a história de mulheres no mercado de trabalho, escrevendo algumas séries infantis para TV e gostando muito de modelar em cerâmica, nas horas vagas.

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