Livro “Museu Desmiolado” ganha exposição de poemas

O Museu Desmiolado, livro do poeta Alexandre Brito conhecido dos alunos que acessam a Plataforma Elefante Letrado, teve seus poemas “musealizados” e eles estarão em exposição no Santander Cultural de Porto Alegre, de 24 de junho a 29 de julho. De forma lúdica e poética, a mostra é apresentada em formato de núcleos.  Por meio de uma seleção de doze poemas musealizados com objetos, músicas, paisagens, sentimentos e lugares descritos nos versos do autor.Os 12 poemas que integram a exposição O Museu Desmiolado – onde ver cabe dentro do olhar com representações de outros artistas são: O museu, O museu desmiolado, O museu do botão, O museu do vento, O museu sinistro, O museu da solidão O museu nininho, O museu do crepúsculo, O museu das palavras esquecidas, O museu dos palíndromos, O museu dos relógios parados e O museu do fim do mundo.

Na exposição “Museu Desmiolado”, o desmiolado não representa alguém sem memória ou responsabilidade, mas a inversão da razão, do bom senso, numa divertida instalação às avessas. São apresentados relógios parados, minúsculos objetos, a solidão que vive em cada um de nós, o sinistro, o vento, o local onde vivem musas, as paisagens crepusculares, as palavras que já não usamos mais e um local chamado “fim do mundo”, a partir da perspectiva da proximidade de quem o encontra ou o habita.

Atividades Programadas

Além do espaço expositivo, estão programadas atividades que envolvem as crianças visitantes e outras destinadas a professores. Dia 22 de junho,  houve um encontro de educadores, que contou com as presenças do poeta Alexandre Brito, das curadoras Ceres Storchi e Cláudia Antunes e da pedagoga Sariane Pescoits. Os agendamentos para visitas mediadas são feitas exclusivamente pelo ecult03@santander.com.br ou telefone 51 3287.5941.  Haverá um atelier aberto durante todo o período. 

No dia 1º de julho haverá o “Domingo Cultural”, um dia de atividades especiais com contação de histórias em LIBRAS. Haverão oficinas, encenações, visitas mediadas e show com o próprio Alexandre Brito.

A cenografia e a ambientação são dos arquitetos Nico Rocha e Ceres Storchi. A mostra é um convite para refletir o papel e a importância dos museus no mundo por meio de poemas. Buscando, segundo as curadoras, dar protagonismo ao público infanto-juvenil . Para Ceres, a riqueza desse panorama poético é uma experiência do mundo dos sonhos, da imaginação e dos sentidos. Claudia lembra que “com o livro nas mãos, surgiu a necessidade de buscar uma parceria sólida e frutífera para concretizar o projeto e interpretar os poemas, segundo a ótica da museologia, da curadoria e da arte-educação”.  

 

O escritor já conhece o trabalho dos responsáveis pela mostra. Em 2016, a equipe montou a exposição comemorativa dos 150 anos do escritor Simões Lopes Neto. “Tenho a impressão que vou ter o mesmo tipo de estranhamento, só que numa escala tridimensional surpreendente”, diz Alexandre, que promete estar muito presente na exposição. Sobre o livro, ele conta: “Quando a Annete (Baldi), da Editora Projeto, enviou os originais do Museu Desmiolado pra Graça Lima ilustrar, me deu um frio na barriga. Ela é uma das profissionais mais respeitadas do mercado. Quando chegaram as ilustrações foi um susto maravilhoso.”

Uma vez que a origem da palavra grega “museu” remete à “casa das musas”, no dia da abertura e em datas especiais, 1º e 27 de julho, ocorre a performance Filhas da Memória, com concepção e direção cênica de Gabriela Poester. São nove atrizes que representam as filhas de Mnemóside e de Zeus. Na mitologia grega, Calíope (eloquência), Clio (história), Erato (poesia lírica), Euterpe (música) Melpôneme (tragédia), Políminia (música sacra), Tália (comédia), Terpsícore (dança) e Urânia (astronomia e astrologia), inspiravam as artes e as ciências.

A experiência cultural protagonizada na visita apresenta o museu como lugar de geração de conhecimento, com infinitas oportunidades de aprendizagem e identificação. Museu, arte, educação, memória e poesia são as palavras-chaves que sustentam a mostra, que oferece uma oficina permanente para exercitar processos criativos.

Vamos conhecer um pouco das ideias e do cotidiano do poeta?

EL – Como foi a criação do teu último livro com o Gustavo? Ele fez as ilustrações depois de ler os poemas ou acompanhou o processo?

 

AB – Foi uma experiência muito bacana. Não tive contato com o Gustavo (Piqueira) até praticamente o livro ficar pronto. A Márcia (Leite), da Pulo do Gato, fez o meio de campo entre a gente. Conversava lá, conversava cá, tentando conceber o tipo de esquisitice que o livro pedia. Quando por fim chegamos ao conceito, “as antenas do Gustavo acionaram as hélices da criação e ele produziu 15 artes, ou bichos visuais que, somados aos meus 15 poemas, ou bichos verbais, deu no que deu, na fauna hiperbólica do Muito Esquisito. Um lance legal é que artes de Gustavo não ilustram meus poemas, da mesma forma que os poemas não discorrem sobre as artes de Gustavo. Poema e imagem, imagem e poema, por si mesmos, apresentam-se investidos de sua própria força estética. Diante do texto, desnudo, o leitor está liberto para formular a sua própria fabulação. Diante da imagem, despida, o leitor está livre para conceber uma narrativa toda sua”.

 

EL – Fala um pouco sobre tuas múltiplas habilidades: poeta, músico, editor. Sobre o programa da rádio web e trabalhos comunitários como no Chocolatão.

 

AB – O meu interesse por música e poesia nasceram juntos. Nas minhas memórias mais antigas está minha vó Cândida, tocando violão e recitando versos do Olavo Bilac, Alphonsus Guimarães e Bastos Tigre. Foi uma grande mobilizadora involuntária dos meus talentos. Exibo com orgulho o meu Fábrica Gaúcha de Violões Alberto Salmeron de 1951, que herdei dela. Muitos da minha geração tomaram para si não apenas a tarefa só de escrever, mas também de publicar e vender seu trabalho, de mesa em mesa, de bar em bar. Não bastava apenas escrever. Isso desenvolveu habilidades para além da escrita. Era importante registrar uma produção subterrânea, que nunca chegaria à luz não fosse através dos meios precários da época, o mimeógrafo inicialmente e depois o Xerox. Este gosto por dar visibilidade a uma produção geracional me levou a envolver-me em alguns projetos importantes como a Coleção Petit-Poa (CLL-SMC/POA), a AMEOP – editora ameopoema (com Ricardo Silvestrin), a Instante Estante (com Sandra Santos), entre outros. Acho que o Brinkaredo, que é o programa desmiolado da gurizada medonha da rádio pirada, tem e ver com isto. Junto com Zizi Paz (Kombina da Chris) e Susi Tech (Rádio Pirada) estamos colocando no ar da web uma produção infanto-juvenil relevante. E o mais legal de tudo é ouvir o que essa meninada esperta tem a dizer sobre os livros que leram, as ideias que os empolgam e suas dicas pra gente. O Chocolatão é uma vila que saiu daqui de pertinho de onde moro e foi pra muito longe daqui. Eu moro no Centro Histórico. Me criei no Menino Deus. Na década de 60 vi a remoção da Ilhota para a longínqua Restinga. Numa sociedade tão injusta e desigual como a nossa todos deveríamos lutar contra estas desigualdades e injustiças. A invisibilidade está umbilicalmente ligada à indiferença. E a indiferença é uma das piores violências que um ser humano pode sofrer ou praticar. A biblioteca Chocolatão, como inúmeras iniciativas desta natureza, olho no olho, inverte a ordem das coisas, muda o rumo da conversa, caminha na direção da mudança.

 

EL – Como foi ser patrono na feira de Bento? Como é o contato com o público infantil?

 

AB – Posso dizer que mais do que emocionante é um contato significante. Escrevi um poema que diz… “um poeta demora / diferente do profeta, sabe a verdade provisória / e como quem nada sabe / esconde-se atrás das palavras / não para que encontrem-no / mas às palavras”. Então, este encontro que se dá através das palavras, por causa das palavras, é simplesmente um encontro adorável. E ter sido patrono da Feira do Livro Infantil de Bento Gonçalves foi um presente. Bento Gonçalves tem longa tradição na realização de feiras de livros e agora deu um belo passo adiante. A Feira do Livro Infantil do Sesc privilegiou particularmente a primeira infância. Ela teve a preocupação de mobilizar as escolas de educação infantil e do ensino fundamental (até as terceiras séries), por entender que as bases do ser humano futuro se constituem na tenra infância. Meu papel como patrono foi festejar e reforçar este aspecto.

 

EL – O prêmio Jabuti sofreu modificações. Teve a inclusão da categoria estímulo à leitura. Por outro lado, juntou na mesma premiação ilustração e projeto gráfico de capa; e literatura infantil com juvenil. Acha que a junção desprestigia ou descaracteriza as categorias?

 

AB – Estas alterações são desastrosas. Expressão da mais pura desinteligência. Nada justifica. Qualquer pessoa minimamente pensante sabe a razão de literatura infantil e literatura juvenil serem consideradas categorias distintas, e da mesma forma, ilustração e projeto gráfico. Simplificações inaceitáveis, compreensíveis apenas do ponto de vista obtuso da reengenharia de custos.

 

Serviço:
O Museu Desmiolado
Galerias leste e oeste superiores do Santander Cultural (Rua Sete de Setembro 1028 Centro)

Encontro de Educadores: 22 de junho
Visitação de 24 de junho até 29 de julho
Apresentações das Musas dias 1/7 e 28/7
Entrada franca 

Informações, inscrições e agendamento: ecult03@santander.com.br ou telefone 51 3287.5941
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