O Valor da Poesia na Educação Infantil

Professora com doutorado em Letras, pesquisadora, especialista em teoria literária com publicações sobre poesia infantil, estudo de autores como Erico Verissimo e Lila Ripoll, contos do Rio Grande do Sul, entre outros. Maria da Glória Bordini falou ao Elefante Letrado sobre a produção de poesia infantil no Brasil, quem são os autores que fizeram e fazem a diferença no Brasil, sobre a indústria editorial e o papel das escolas na formação do leitor.

EL – Quem são os autores clássicos e contemporâneos que contribuem para a formação do leitor qualitativamente?

MGB – Sempre é injusto estabelecer hierarquias de autores, mas aqueles que a história literária consagrou deveriam ser conhecidos pelos leitores em formação. Afinal, ficaram na história porque seus poemas mostravam o mundo e a vida de uma forma instigante. Poetas como Cecília Meireles, Henriqueta Lisboa, Vinicius de Moraes, Mario Quintana, Ferreira Gullar, Manoel de Barros, José Paulo Paes, Paulo Leminski têm muito a dizer a crianças – e a adultos também.

EL – E quem faz uma boa poesia infantil atualmente?

MGB – Há bons poetas no mercado editorial, tais como os veteranos Sidônio Muralha, Ruth Rocha, Elias José, Sérgio Capparelli, Tatiana Belinky, Sylvia Orthof, Roseana Murray, Bartolomeu Campos de Queirós, Antônio Barreto, Elza Beatriz e os novos, Leo Cunha, Duda Machado, Marcos Bagno, Carlos Augusto Novais, Maurício Veneza, Alexandre Azevedo, João Anzanello Carrascoza, Francisco Marques, José Carlos Aragão, Gláucia de Souza.

EL – A produção aumentou nos últimos anos?

MGB – A produção tem aumentado gradualmente, com novos nomes e novas experiências, mas ainda se ressente de um crescimento qualitativo em maior escala. Poucos são os poetas que entendem o espírito infantil e o traduzem para seus textos.

EL – As editoras e as escolas dão o devido valor a essa produção?

MGB – A indústria editorial só investe no que é lucrativo. O livro infantil tornou-se um bom investimento desde os anos 1970, mas é caro, pois demanda design e ilustração de qualidade. Assim, os editores publicam poesia infantil quando ela tem possibilidades de ser adotada na rede escolar ou distribuída pelo MEC. Existem pequenas editoras que ainda ousam, mas as grandes são muito reticentes quanto a publicações na área. Por outro lado, a poesia é bem acolhida na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Depois, o interesse escolar decai, quase desaparecendo no Ensino Médio, onde domina a narrativa.

Poesia Infantil

EL – Qual a contribuição da poesia na alfabetização escolar?

MGB – Não creio que a poesia deva ser um instrumento de alfabetização. A literatura, diz Marisa Lajolo, não é pretexto para ensinar. O que a poesia pode fazer pelo alfabetizando é dar-lhe noção de sons verbais e de ritmos frasais, mas não como exercício didático e sim como momento que a criança vive por gosto, porque o som das palavras e sua combinação a agradam.

EL – Como o livro online pode contribuir na formação do leitor na infância e na juventude?

MGB – A geração atual vive online, o que não significa que tenha abandonado o livro impresso (segundo pesquisas recentes). É claro que, online, a literatura atinge um número inimaginável de jovens leitores, desde que o acesso seja livre. Dadas as limitações financeiras das famílias, a aquisição de livros impressos está mais difícil, e mesmo a de livros online fica restrita a quem possui aparelhos receptores. Assim, à escola, em geral equipada com computadores, caberia oferecer livros, impressos ou online, à leitura não só formal, como parte das atividades de sala de aula, mas como lazer. Ler expande os horizontes culturais e as habilidades sociais. O livro online pode ser muito atrativo para crianças e jovens, na dependência de seu design adequado ao meio digital. Mas como elemento formativo, precisa incentivar o pensamento crítico sem deixar de lado o prazer estético.

Poesia Infantil

EL – Qual a importância de uma plataforma como o Elefante Letrado no desenvolvimento do ensino nas escolas?

MGB – O Elefante Letrado propicia dados sobre repertório de leitura, fundamental para orientar pais e professores quanto a títulos a oferecer à criança. Além disso, inclui recursos ligados à pedagogia da leitura, o que facilita o trabalho docente. Plataformas como essa, que divulgam livros e modos de trabalhar a leitura, deveriam proliferar e, talvez especializar-se em faixas etárias (uma das dificuldades enfrentadas na seleção de textos).

EL – Como a canção, a poesia cantada auxilia na formação leitora?

MGB – A poesia nasceu cantada e é inegável que a percepção de ritmo e melodia do verso encontra na música um reforço poderoso para apurar-se. Convém lembrar, porém, que a canção não se dissocia da música e que o poema prescinde dela. Dessa forma, canção e poema devem ser distinguidos e a leitura de poemas incentivada, já que a canção possui um espectro de difusão muito amplo, o que não acontece com o poema.

Por Lúcia Karam

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