Chris Dias: uma “acordadora de histórias”
Vestindo uma roupa estampada com livros, a escritora Chris Dias conversa com uma plateia de mais de 200 crianças no Palco Carlos Urbim da 64ª Feira do Livro de Porto Alegre:
“Eu tenho um segredo: toda a história que escrevo aconteceu”. E assim, contando as histórias de seus livros, ela encanta jovens alunos, atentos a cada detalhe narrado, como a da Albertina, a vaca estradeira, que ganhou o nome de uma tia.
Por isso, ela se apresenta no blog como uma “acordadora de histórias”: conversa, ouve e deixa as histórias adormecidas, até “acordá-las”. “As histórias estão no mundo, estão por aí e a gente vai tendo um olho sensível para poder colher e transformar. Por exemplo, os livros que eu tenho no Elefante Letrado são todos sobre infância, com crianças. É aquela que tem um desconforto pra tomar banho, a outra que não gosta de verdura, essa coisa mais comportamental é muito rica, que são as relações humanas. O jeito da criança olhar o mundo, como ela vai tratar o seu corpo e como será inserida nesse contexto. Eu acho que as crianças e o mundo todo têm muitas histórias pra contar e a gente fantasiar sobre elas é uma delícia”, explica.
Projeto Kombina
A educadora é idealizadora do projeto cultural itinerante Kombina, um centro de cultura móvel que leva várias formas de arte e brinquedos para crianças assistirem e também participarem da produção cultural. O projeto, premiado, já chegou até cidades do Uruguai.
“Tem uma história do Kombina que eu acho que foi o que fez a gente seguir no projeto. Um adolescente que não estava mais indo à escola soube que teria um pessoal ‘diferente’ ali naquele dia e apareceu no meio da tarde, deixando as professoras entusiasmadas. Ele passou o tempo inteiro com um malabar brincando, se desafiando e me disse: ‘Quando mexo nesse objeto me dá um troço’. Quando ele disse esse ‘troço’, eu pensei que é o que a gente busca, é esse troço que vai ajudar ele a chegar nos livros, na arte, nele mesmo. Então, quando ele teve esse troço acionado, eu vi que é isso que a gente tem que fazer. A gente tem que ir pela rua ajudando as pessoas a se enxergarem melhor. Ele foi naquele objeto, outro foi diante de um quadro, ou a partir de um livro. E o mais lindo de tudo é que no dia seguinte ele voltou para a sala de aula e se inseriu de novo na escola.
Foi uma das histórias mais emocionantes que a gente viveu. A ideia é: se tu vives pelo menos um minuto na vida uma experiência de liberdade e de riqueza produtiva interna, tu vais buscar isso o resto da vida. Aquele botãozinho acionado é muito difícil que se apague de novo”.
Obras
Até agora são 26 livros, além das antologias com outros escritores. Entre eles, Iberê Menino, com ilustrações de André Neves, Clara, Clarita, Ita, com imagens de Clara Pechansky, e Crianças em Porto Alegre, com Laura Castilhos. E tem a dupla Luli e Téo, trilogia com ilustrações de Rita Taraborelli, que fez a coleção digital para a editora Elefante Letrado em pintura sobre madeira (Justo e bacana, Vamos chamar o lobo? E Cadê a comida que estava aqui?).
“Eu acredito no formato, na ideia de que se amplie, que quanto mais leitores a gente puder atender, independente do físico, da coisa material. Eu sou de uma geração que ainda o cheiro do papel emociona, mas o acesso que o mundo digital permite, faz dele um sucesso. Mais do que isso, ele é a garantia, talvez, do sucesso de formação de leitores. Eu acho que assim como a literatura é anterior ao livro impresso, a digital é posterior. Então o formato é o de menos. O que a gente tem que garantir é a subjetividade, a qualidade dos livros e a ideia da literatura literária. Eu gosto de fazer essa diferenciação. Não a literatura pra ensinar, essa pedagógica, mas a literária.”
Sobre a autora
A escritora estudou Letras e Psicopedagogia. Ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura 2016 com Então quem é, mesmo livro que entrou para o Catálogo de Bolonha. Carrega ainda os prêmios Viva Leitura 2016 e o Panvel e os reconhecimentos Inovação Empreendedora PGQP 2015 e TEDX 2017.
Chris Dias também é nome de biblioteca, título que ganhou em 2017 da Escola Municipal de Educação Infantil Cecília Graeff, de Morro Reuter, depois de ser a patrona da Feira do Livro da cidade. “Uma coisa muito significativa. Primeiro porque mostra que a gente tem uma relação com aquela comunidade. Depois que os teus livros passaram a fazer sentido naquele grupo, em algum momento despertou aquele grupo. E o mais lindo de tudo é que é uma escola de educação infantil. De pequenos leitores, de leitores pré-alfabetizados, então isso sintetiza muito do que eu acredito. Eu acredito que as histórias começam quando a criança está na barriga, que a gente tem esse dever de multiplicar. E uma coisa que eu aprendi estudando sobre o brincar que é muito complicado que é assim: brincar se aprende, e estar em contato consigo mesmo, também. Então, se a gente não colocar espaço pra isso, e ter um espaço dedicado à biblioteca é um espaço pra isso, isso talvez acabe. Então cada vez que tem uma escola preocupada com isso, eu fico bem feliz. Ainda mais na educação infantil, que isso é mais importante, mais bacana e dramático, uma prova de que essa corrente vai se levar adiante. E biblioteca é uma coisa muito importante pra gente. Fica uma marca, eu tenho uma ligação com essa biblioteca pra sempre, eu vou lá toda hora que eu posso. A gente vai criando território de significados. Cada escola não é uma escola, é um território de aprendizagem que a gente pode interagir, mesmo não estando lá no cotidiano, mas a interação é mais importante do que a presença, ela é superior”, finaliza.
A Chris Dias e outros diversos escritores consagrados fazem parte do acervo do Elefante Letrado.
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Amei
Obrigado pelo feedback positivo, Júlia! 🙂