E-books: popularização dos livros digitais passa pelo mercado educacional

Em entrevista sobre o mercado digital, o diretor da Bookwire no Brasil, Marcelo Gioia, falou sobre perspectivas, desafios e oportunidades dos e-books. 

Fundada em 2009 na Alemanha, a Bookwire é especializada na distribuição de e-books. O braço no Brasil trabalha com cerca de 350 editoras e 35 mil livros digitais e, em 2017, adquiriu a Distribuidora de Livros Digitais (DLD).

Marcelo Gioia foi CEO do Copia Brasil e lançou a plataforma Submarino Digital Club, a primeira de leitura social na América Latina. Atualmente na equipe da Bookwire no Brasil é responsável por Desenvolvimento de Negócios e Aquisição de Conteúdo no Brasil e América Latina. 

O managing director da empresa aposta no crescimento das vendas do livro digital, que vê como alternativa para as pessoas, mas acredita no leitor multiformato, que fazem leituras complementares. Gioia disse que a popularização do mercado de e-books passa pelo mercado educacional para formação do leitor digital, pelo barateamento dos leitores de e-books e por uma maior oferta dos catálogos.

– Segundo pesquisa da FIPE do ano passado, o mercado do livro digital no Brasil representa 1,09% do faturamento total das editoras e pouco mais de um terço delas produzem e comercializam livros digitais. Qual seu olhar para esses dados?  

Gioia – Embora o senso tenha sido bem elaborado, muito bem feito, e as pessoas envolvidas são muito competentes, eu acho que teve um equívoco quando eles consideraram os didáticos. Já que os didáticos desequilibram, pois eles contribuem de forma significativa para o impresso e de forma irrisória para o digital. Então esse 1,09% perde um pouco do sentido. O número mais próximo da realidade que a gente tem visto é de 5%. Se a gente considerar os nichos editoriais que fazem realmente parte do digital. E na experiência da Bookwire a gente tem visto que as editoras têm recebido faturamento em torno de 7% a 9% proveniente do digital, na média. É uma faixa na média. Tem algumas que até 15% a 20% pontuais. Mas são editoras mais específicas. Na média do portfólio da Bookwire mais DLD (Distribuidora de e-books), que nós adquirimos, varia em torno de 7 a 9 %. Essa é a nossa experiência.

–  Já teve um crescimento ou você vê essa possibilidade próxima, de acordo com seus contatos com as editoras?

Gioia – Sobre crescimento, eu posso falar da janela que eu consigo enxergar, do meu ângulo de visão do mercado. A gente tem pouco mais de 330 editoras no portfólio e desde dezembro de 2013 que a Bookwire/DLD  começou a operar na distribuição do livro digital a gente nunca teve um mês que foi pior que o anterior em termos de unidade e faturamento. Então, quero dizer, mesmo tendo alguns meses com crescimento pequeno ou lento, sempre um mês nos últimos 60 meses, nunca teve um mês com resultado pior que o anterior, ou seja, há crescimento constante. Talvez não tão acelerado, não tão com uma curva tão íngreme como a gente gostaria, mas um crescimento constante. Agora nesse momento de mais crise no mercado editorial a gente também tem visto que o livro digital é uma alternativa para as pessoas.

A gente, como Marcelo e como Bookwire, não acredita em um único formato, a gente acredita no leitor de multiformato. Esse leitor depende muito do conteúdo que ele está lendo, do momento em que ele está lendo e também depende do momento macroeconômico. Hoje vale muito mais a pena você comprar um livro digital, que deve estar entre 30% e 40%, às vezes 50%, mais barato que o livro físico, além de que é muito mais fácil encontrar e comprar.

– Quais são os caminhos para a popularização do mercado de e-books?

Gioia – Tem várias esteiras aí de processos que precisam andar para que uma massificação aconteça. Uma delas é a esteira do mercado educacional. Quando o mercado educacional não só oferecer, mas também acabar criando e formando leitores mais digitais, esses leitores formados pelo mercado educacional passam também a ler digital nos outros tipos de livros. A outra esteira é um obstáculo hoje, mais que tem sido vencido com os aplicativos, que são os devices. Os leitores mais “heavy“, mais assíduos, o leitor de ebooks neoreader ainda é bastante caro e o acesso é difícil. E a última esteira, que eu acho a mais importante, é de oferta de catálogo, que a gente chama de selection. Hoje a gente só tem 10% do catálogo ativo do impresso na versão digital. Em números bastante grossos, eu diria que são 400 mil livros ativos impressos e 40 mil digitais. Quando o selection for mais amplo, as pessoas também passam a enxergar maiores possibilidades de ter o que elas precisam ter, não somente os 40 mil, que geralmente são os lançamentos, os bestsellers, e não tanto a cauda longa que é tão forte para o digital.

– Quantos títulos a Bookwire distribui no mercado brasileiro? Com quantas editoras trabalham?

Gioia – A Bookwire deve estar atingindo esse mês 350 editoras distribuídas, com cerca de, arredondando os números, 35 mil títulos digitais

– Como se dá a criação de conteúdo na Bookwire?

Gioia – A Bookwire não cria conteúdo. A gente é eminentemente uma distribuidora. A gente tem ajudado, mas não como tarefa principal, na conversão de livros para formatos digitais. Só temos uma gestão do processo de conversão nos vários formatos que são necessários disponíveis.

– A Bookwire trabalha com número significativo de publicações infantojuvenis?

Gioia – Não sei precisar o número de conteúdo infantojuvenil. Mas tem muito, tem bastante. É um número importante. A venda de infantis no digital não são tão agudas, mas a venda de young adult, juvenis, é bastante significativa.

– O custo de produção de e-books infantis é mais caro do que o físico?

Gioia – Não é o fato de ser um livro infantil que tem o custo de produção mais alto. Depende muito do conteúdo. Se for ilustrado, por exemplo, em que precise fazer um formato de layout fixo, a produção por página do layout fixo é mais cara. Mas como os infantis de layout fixo têm menos páginas, no valor total do livro acaba ficando a mesma coisa. Mas a gente está falando de preço muito baixo, em comparação com a produção física, é bastante irrisório, pequeno o valor para conversão no custo de produção final. Tanto para o formato fixo como o fluído. Mas isso não se caracteriza só por ser infantil. Tem muitos livros que também precisam de layout fixo, como os de fotografia, de arte, alguns técnicos. Não necessariamente o fato de ser infantil que fica com a produção mais cara.

– Quais os desafios para formar o leitor digital? 

Gioia –  A leitura digital é uma criação de hábito. E como toda criação de hábito, não é um processo imediato nem simples. Ela também nasce da necessidade e a leitura digital responde a alguns anseios, mas também cria outros problemas. Alguns aspectos que ela resolve é, por exemplo, a quantidade de conteúdo que você precisa ter com você, a conveniência de um aplicativo que você pode ter 1.500 livros no seu bolso. Outra coisa importante é o processo de compra.

Com um clique você não precisa ir na loja, com um clique simples você já tem o conteúdo que precisa ter, eventualmente, imediatamente. Também facilita. Mas, como já falei, a gente não acredita em um leitor único digital, a gente acredita no leitor de multiformato, onde as leituras são complementares.

– Como se dá essa complementaridade?

Gioia – A complementaridade é a palavra hoje do que a gente entende do leitor. O leitor não é só do digital ou só do físico, é de multiformatos. Haverá leituras que ele prefere ler em um formato, haverá circunstâncias que ele tem que ler em outro, haverá momentos em que ele prefere utilizar o digital ou o físico. Haverá momentos curiosos em que ele pode usar os dois, ele pode iniciar a leitura em um e continuar no outro. Depende muito da circunstância. Por exemplo, uma questão comercial: ele pode não encontrar o livro nas livrarias e pode achar facilmente nas digitais e comprar imediatamente.

Então, eu acho que quando a gente conseguir mercado, conseguir mostrar que o livro digital é complementar, que o leitor é multiformato e que há momentos, circunstâncias, situações e tipos de leituras para um e para outro, a gente consegue alavancar um pouco mais a leitura digital no nosso país.

Para 2019, talvez para 2020 – é sempre perigoso falar esses números – mas a gente espera, a gente trabalha, nessa curva que a gente vê hoje, de pelo menos 10% da leitura acontecer no formato digital.

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