Eloar Guazzelli: Trabalhos e projetos do ilustrador e quadrinista gaúcho

Eloar Guazzelli  trabalha como ilustrador desde a década de 80. Apresentando um diferencial na sua produção infanto-juvenil, as HQ (histórias em quadrinhos) como mostra a coleção de obras literárias clássicas adaptadas em quadrinhos como O pagador de promessas, Grande Sertão Veredas e A escrava Isaura.

O quadrinista e animador que reside em São Paulo acredita que as adaptações ampliam os horizontes do público e diz que  os quadrinhos são uma espécie de “gêmeo” do cinema. Também atua na área cinematográficas, tendo sido diretor de arte do longa-metragem Até que a Sbórnia nos separe, da Otto Desenhos Animados.

O gaúcho nascido em Vacaria ilustrou os livros do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, para a Globo Livros. Ele garante que o autor é um “gênio”, e recomenda aos pais a leitura para seus filhos.

Formado em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sendo premiado pela Yomiuri International Cartoon Contest, além do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, da Bienal Internacional de Quadrinhos entre outros.

Codinome DudaO boto do arroto são livros ilustrados por ele encontrados na biblioteca do Elefante Letrado. O ilustrador diz que é fundamental a possibilidade de articular técnicas tradicionais e novas tecnologias, mas teme os exageros e excessos da cultura audiovisual.

Codinome Duda

Livro Codinome Duda – escrito por Marcelo Carneiro da Cunha com ilustrações de Eloar Guazzeli  – Localizado na estante Z da Plataforma Elefante Letrado

FORMAÇÃO E ATUAÇÃO

Eloar Guazzelli: Minha formação abarca diferentes faces do desenho. Tenho diploma de Artes Plásticas pela UFRGS, comecei minha vida profissional participando de Salões de humor gráfico. Trabalho para cinema de Animação e como ilustrador desde a década de 80. As histórias em quadrinhos foram uma atividade que realizei em paralelo desde sempre. A partir da primeira década do Século XXI tive a oportunidade de trabalhar nas adaptações de várias obras da literatura clássica nacional e estrangeira (A escrava Isaura, Fernando Pessoa, Grande Sertão Veredas).

ADAPTAÇÕES

Eloar Guazzelli: Creio que toda adaptação, incluindo as cinematográficas e televisivas, ampliam os horizontes do público. E  dada a enorme influência do audiovisual na sociedade contemporânea, com certeza irão despertar no mínimo uma curiosidade para determinadas obras e autores. Até porque são abordagens diferentes, a leitura de uma adaptação em determinada linguagem não “esgota” as possibilidades do original, se bem feita é mais uma tradução.

 Vejo possibilidades muito positivas nesse processo de adaptações onde pude articular meu trabalho em diferentes áreas, até porque hoje vivemos um momento de entrecruzamento das linguagens, filmes e livros, concebidos para circularem em diferentes plataformas de exibição.

QUADRINHOS

Eloar Guazzelli: Acho que sempre houve uma variedade de quadrinhos no Brasil, mas para públicos restritos. Em geral com um caráter de produção independente. O que realmente mudou é que a partir das compras por Planos de Governo (desde 2007, principalmente). Estamos construindo uma produção em escala industrial de um tipo de quadrinho que antes estava restrito àquelas produções em escala menor. E nesse contexto ampliam-se as possibilidades editoriais. Livros a partir de narrativas autorais, edições de luxo, etc. 

Essa experiência de articular diferentes linguagens na construção de minhas histórias, sempre coloquei nos meus álbuns uma relação forte com as estruturas narrativas do audiovisual.

Isso porque os quadrinhos são uma espécie de “gêmeo” do cinema, infelizmente um par meio maldito, vítima por muito tempo de forte preconceito, sendo considerada uma arte menor. Situação que efetivamente começou a ser debelada a partir de forte movimento entre intelectuais e pesquisadores no pós-guerra. Então os quadrinhos são vistos como uma arte autônoma e acima de tudo tão rica e sofisticada quanto seus pares, e deixam de ser vistos como se fossem apenas um produto comercial para crianças e adolescentes.

TRAÇO

Eloar Guazzelli: Eu vejo com relativo otimismo a cena Brasileira. Inúmeros autores vêm desenvolvendo diversas poéticas e narrativas, apresentando um contexto bastante rico. Mas como uma atividade industrial, todo esse movimento depende muito da conjuntura econômica e também é bastante influenciado pelas novas plataformas de exibição. Mas como meu trabalho transita em diferentes linguagens não acredito que exista uma delas como preponderante, o cinema está presente e também a síntese do humor gráfico. O que acontece (e me agrada) é que de cada uma retiro algum elemento estrutural que pode potencializar os efeitos do meu traço.

ILUSTRAÇÕES DE MONTEIRO LOBATO

Eloar Guazzelli: O maior privilégio de um ilustrador é ser um dos primeiros leitores de uma obra. Neste caso por se tratar de um clássico eu já conhecia o contexto de outras leituras, mas confesso que desde pequeno não tinha relido estas obras. E foi um susto, saí deste trabalho com a certeza de que Lobato é um gênio. Recomendo aos adultos que leiam essa coleção para seus filhos, pois qualquer um dos títulos que a compõem é uma obra brilhante. A gente percebe como ele foi visionário nos temas e abordagens, trazendo personagens de outras linguagens como o cinema e os quadrinhos e antecipando ideias que seriam grandes sucessos do cinema como Querida encolhi as crianças e Shrek.  

Fui montando o contexto do sítio com vários cenários em diferentes lugares, quase uma montagem cinematográfica.

Tive a sorte de desenhar alguns livros no estúdio onde trabalho nos meses de verão, na minha casa de Florianópolis. Ali pude fazer desenhos de observação direta da natureza, no meio de córregos e matas “de verdade”. Ao longo do processo tive a sorte de visitar alguns sítios e fazendas onde de cada um retirava algo. Também tivemos uma viagem ao SESC de São José dos Campos, onde visitamos uma exposição magnífica sobre os ilustradores de Lobato.

CINEMA

Eloar Guazzelli: Trabalho desde os anos 90 com cinema. Em especial fazendo roteiro e direção de arte para animação, o que realmente me ajudou muito ao buscar um olhar contemporâneo para a obra de Lobato. Vendo tantos ilustradores brilhantes me ocorreu buscar um nicho, uma particularidade, e que foi tentar colocar o espectador dentro das cenas, como se estivesse filmando.

LEITURA NA INFÂNCIA

Eloar Guazzelli: Venho de uma família que sempre motivou o interesse pelas artes, sem fazer distinção. A biblioteca era bem grande e desde cedo me vi num ambiente muito ocupado por livros. Meu pai foi advogado de presos políticos, esta foi com certeza sua maior obra. Por conta disso cresci num contexto humanista que valorizava muito o conhecimento. Minha mãe também era apaixonada por música e literatura, de forma que desde muito cedo entrei em contato com estas expressões artísticas. Por estas razões, me sinto realizado em dar continuidade a um processo mágico que veio lá da minha infância. Quando percorria com o olhar fascinado as várias estantes da casa paterna e descobria maravilhado os livros, eram a “casa” de ilustrações fantásticas, tão poderosas, muitas vezes quanto a magia dos textos que as haviam inspirado.

Numa enciclopédia chamada Trópico, descobri a Guerra de Tróia, meu tema favorito aos sete anos. Também mergulhei nas selvas de Tarzan, viajei no Oriente com as aventuras de Karl May e até voei com Júlio Verne. E através do gênio de Monteiro Lobato, encontrei meu próprio país. 

MATERIAL E CORES

Eloar Guazzelli: Cada livro tem um processo, dependendo muito de questões de ordem prática como custo e prazo. Como a maioria dos projetos onde trabalho nesta questão tem limites muitas vezes curtos tenho de utilizar recursos mais ágeis que passam pelo computador.  Nestes casos a técnica é relativamente simples. Faço desenhos de observação para os ambientes, chamo isso de “captação” de imagens, exatamente como no cinema. Desenho a traço com nanquim e aplico manchas de tinta nas áreas de sombra se for necessário. Finalizo no computador onde aplico cores e texturas também. Porém alguns projetos mais autorais permitem uma pesquisa mais extensa e o uso de técnicas mais tradicionais como aquarela, lápis de cor e tintas variadas.

O boto do Arroto

Livro O boto do arroto – escrito por Celso Gutfreind com ilustrações de Eloar Guazzeli  – Localizado na estante M da Plataforma Elefante Letrado

TÉCNICAS

Eloar Guazzelli: Como disse antes, o uso do computador viabilizou muito os processos que exigem soluções de qualidade que sejam também rápidas. Como os recursos digitais desenvolveram muito nos últimos anos várias plataformas emulam as técnicas tradicionais e permitem um resultado de bom nível. Mas para mim o fundamental é a possibilidade de articular técnicas tradicionais e novas tecnologias, como por exemplo o uso de diferentes texturas capturadas por um scanner.

Acredito que no fim das contas os exageros é que são ruins, tanto o conservadorismo no uso de linguagens tradicionais e na recusa de novas linguagens como por outro lado a crença que uma nova tecnologia basta para obter resultados excelentes, como um brinquedo novo que se usa em excesso.

 CULTURA AUDIOVISUAL

Eloar Guazzelli: Ainda é cedo para avaliar. Tenho medo de assumir uma atitude reacionária que sempre condenei na minha juventude, como o preconceito contra os quadrinhos e a TV. Mas tenho receio de duas coisas. Uma excessiva predominância do audiovisual, pois essas plataformas favorecem linguagens híbridas. E também um caráter lúdico demais, um excessivo peso no caráter de entretenimento que algumas obras parecem carregar. Ainda acho que a literatura tradicional é a coisa mais interativa que se inventou. Nada é maior do que a força do imaginário puro e simples. Mas como disse ainda é cedo e também tenho interesse em experimentar essas plataformas.

Acho muito interessante esta característica de nossa época onde as linguagens se interpenetram. Porém, tenho receio dos excessos de uma cultura audiovisual.

Leia também sobre: A importância do papel do professor para a compreensão leitora da criança

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Comentários (2)

  1. Anito Steinbach
    fevereiro 27, 2021 at 10:25 am Responder

    Estou procurando ilustrador para livro com narrativa de sertanejo em busca de ver o mar.

    • Elefante Letrado
      maio 28, 2021 at 9:20 am Responder

      Oi, Anito!
      Você pode enviar um e-mail para editoria@elefanteletrado.com.br para entendermos melhor como podemos ajudá-lo.

      Abraços,
      Equipe Elefante Letrado.

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